Mon interview dans le journal brésilien O Globo sur le sommet de Bruxelles des 7 et 8 décembre 2011.
O GLOBO: O acordo de Bruxelas vai na direção certa, isto é, integração fiscal ou uma Europa federalista?
ALEXANDRE KATEB: Não podemos ainda falar de federalismo. Temos que esperar o estabelecimento de uma verdadeira integração fiscal. Mas em termos de monitoramento de políticas orçamentárias, houve avanços importantes.
O GLOBO: O euro está salvo com este acordo?
KATEB: Não podemos dizer que o euro está salvo. Serão necessárias outras medidas para isso. Mas evitamos o pior. Hoje temos uma base para avançar na questão institucional, o que permite assegurar os mercados financeiros que este tipo de crise não acontecerá mais, pois haverá mais monitoramento das políticas orçamentárias dos estados. Mas o problema de financiamento da dívida soberana não foi resolvido.
O GLOBO: Que consequências terá o isolamento do Reino Unido?
KATEB: O Reino Unido se colocou num córner. Para preservar a competitividade de sua praça financeira, escolheu não entrar (no acordo). A decisão é insustentável no longo prazo e trará consequências. Num dado momento, pessoas vão se perguntar o que faz o Reino Unido na União Europeia (UE).
O GLOBO: Não há nenhuma garantia, então, de que, ao ficarem de fora, os ingleses vão conseguir preservar sua praça financeira, como querem?
KATEB: Não, porque de qualquer forma, o Reino Unido depende do comércio com a zona do euro e o resto da UE. Se recusando a aceitar os constrangimentos que devem ser feitos para obter as vantagens de uma maior integração econômica do bloco, o Reino Unido corre o risco de se isolar ainda mais nas negociações futuras. E é algo que não será positivo, inclusive para o setor financeiro. Ao recusar a regra comum, isso vai gerar tensões no futuro entre reguladores e os atores financeiros do Reino Unido.
O GLOBO: Há risco de o Reino Unido querer sair da UE?
KATEB: Não acho que vai se chegar a este ponto. O Reino Unido tem vantagens importantes dentro da UE. Mas estamos indo claramente na direção de uma Europa com duas velocidades. Um certo número de países vai se integrar cada vez mais. E quanto maior for esta integração, em dez a 20 anos, mais os que decidiram ficar de fora vão se isolar. Um dia, se o Reino Unido estiver em crise, quem vai ajudar?
O GLOBO: Acabou a Europa de 27 países-membros, como anuncia o jornal “Le Monde”?
KATEB: Sim, uma certa concepção da Europa não existe mais. Não podemos ficar no meio do caminho. Temos agora que seguir rumo à integração até o fim. A visão inglesa de uma Europa como um grande mercado acabou. Mas para os outros 26 países que aceitaram o acordo, é positivo.
O GLOBO: Um novo tratado com 26 países será difícil de negociar? Pode levar anos?
KATEB: Sim. Mas há medidas técnicas que podem ser negociadas sem passar pelos parlamentos nacionais, como o reforço do monitoramento da Comissão Europeia dos orçamentos nacionais e déficits. Ou ainda o reforço do mecanismo europeu de estabilidade, que vai administrar problemas de refinanciamento dos estados, e vai estar sob a autoridade do Banco Central Europeu (BCE). Não há necessidade de mudar o tratado atual para fazer isso. Se quisermos ir mais longe, os meios atuais não são suficientes para tratar do problema de dívida soberana. Agora que lançamos o processo, não vejo como voltar atrás. E, num dado momento, teremos que levantar a questão da democracia e da implicação dos parlamentos nacionais neste processo, e de um verdadeiro federalismo. Vamos nesta direção. A questão é: em quanto tempo ? Será preciso uma nova visão.
O GLOBO: O senhor está mais otimista depois deste acordo?
KATEB: Sim, estou. Um acordo foi aceito por 26 países. Estamos nos mexendo. Agora é preciso que haja solidariedade, além da disciplina. Se tivermos solidariedade e criarmos uma ajuda financeira importante para dar tempo a reestruturar todas as dívidas soberanas dos países em dificuldade, aí, sim, poderemos falar de um verdadeiro sucesso. Enquanto não tivermos isso, teremos ainda incertezas pela frente.